Estamos tão inebriados com a possibilidade de poder cantar
em plenos pulmões “eles comem tudo e não deixam nada”, tão inebriados com a
possibilidade de termos ganho o direito de discursar e discutir as nossas
opiniões, as nossas queixas, as nossas razões, que estamos a esquecer que o
mundo mudou. Parece-me que aquilo que chamamos de Liberdade (de expressão ou
como expressão) só se encontra nos nossos pensamentos e nos nossos exercícios
académicos, e nada mais…
Nenhum governo, instituição ou empresa quer saber se este ou
aquele é contra e apresenta fundamentos retóricos sólidos sobre as suas mais ou
menos duvidosas atividades. Já não são opiniões de valor ou de juízo de valor
que conseguem mudar o “caminho” de um governo, que não receia que se fale mal
das suas ideias. Quem ouve a opinião do povo afinal? Ninguém quer saber da
opinião do povo…quanto muito sondam o povo para melhor preparar aquilo que quer
que o povo passe a dizer, a fazer, a consumir… Nos dias de hoje a mais-valia
para qualquer grupo de poder (governamental ou outro) é a informação e a sua
capacidade de a “modelar” para seu benefício. A informação sim! A informação, e
a forma como é transmitida, movimenta sociedades, constrói e destrói o que é
sólido, cria, recria e elimina leis e normas… O que interessa afinal se todo um
povo começa por dizer não, se de seguida a informação que lhe é “administrada”
o leva em pouco tempo a dizer “afinal sim”?
Liberdade de expressão? Poder dizer mal ou bem deste ou
daquele governo, instituição, empresa, poder no geral…que diferença faz? O
poder não se preocupa com a liberdade de expressão, pois consegue manipular a
expressão e com essa a liberdade…
E no final, sejam eles governos, instituições, empresas,
grupos de poder no geral, continuam a “comer tudo e a não deixar nada” …
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